Hábitos Alimentares dos Portugueses

15.03.2008 12:38

Na década de 90 os hábitos alimentares dos portugueses conheceram importantes alterações. A subida do rendimento das famílias, a difusão das grandes superfícies comerciais, a democratização do fast food e a invasão de novos produtos europeus e não só (globalização alimentar) modificaram a alimentação nacional.

A par disso, o número crescente de mulheres trabalhadoras e a flexibilização de horários de trabalho deram também uma ajuda a esta vaga de mudança, com reflexos na nossa saúde. Novos problemas surgiram, resultantes do "comer em excesso e de forma desequilibrada", tão típico das novas sociedades ocidentalizadas.

A alimentação dos portugueses era caracteristicamente uma alimentação do tipo mediterrâneo, com um consumo adequado de peixe, azeite, vinho tinto e hortofrutícolas. Esta é a alimentação reconhecidamente mais saudável e com menos consequências nefastas na saúde. No entanto, nos últimos anos, a situação modificou-se. Segundo a última Balança Alimentar Portuguesa (BAP), que retrata os consumos alimentares per capita dos portugueses, estamos a consumir cada vez mais calorias, com crescimento acentuado dos produtos de origem animal (carne e lacticínios) e diminuição do consumo de peixe.

Nas carnes, reflete-se uma diminuição no consumo de carne de bovino, quiçá em consequência da crise das vacas loucas, e um aumento no consumo da carne de suíno e de animais de capoeira, como o frango e o perú. O consumo de ovos praticamente duplicou desde 1970. Nos lacticínios, o iogurte aparece num lugar de destaque, ganhando terreno em relação ao leite. Por oposição, diminuíram as capitações de raízes e tubérculos, em que a batata tem um peso preponderante face ao feijão, grão, ervilhas e favas, e aumentaram as de cereais, óleos e gorduras, com destaque para o azeite e as gorduras vegetais hidrogenadas. No campo dos hortofrutícolas reflete-se uma diminuição no consumo de produtos hortícolas, apesar do aumento da diversidade de produtos à disposição do consumidor, e um aumento no consumo de frutos, maioritariamente os tropicais, que não estavam disponíveis há uns tempos atrás.

Quanto a bebidas, observa-se uma diminuição no consumo de bebidas alcoólicas, e a substituição do vinho tinto por cerveja e bebidas brancas. O consumo de cerveja cresceu 64% desde 1970. Há ainda a salientar o grande aumento no consumo de refrigerantes e sumos, nada saudáveis, pois apresentam elevadas quantidades de açúcar na sua composição e praticamente nenhum valor alimentar.

O que se nota após a análise da BAP é um aproximar à média de consumo de alimentos na Europa, apesar de nos mantermos os principais consumidores de peixe e arroz per capita. Esta tendência revela um aumento no poder de compra dos portugueses e uma tendência de uniformização principalmente a nível europeu. Numa altura em que a alimentação é tema de discussão em vários sectores da nossa sociedade civil e científica, há que saber preservar o que a nossa alimentação tem de melhor, para que também através da alimentação possamos passar a nossa marca cultural ao mundo!

Dr. Tiago Barros
Associação Portuguesa dos Nutricionistas
 

 

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